
O sol já se aproxima do horizonte.
Os pequenos barcos que compõem o entardecer
são geometrias da beleza que fisgam meu olhar.
Nas bananeiras as folhas resplandecem, douradas.
E o que, na paisagem, antes eram ricas cores
agora escurece em contraluz.
No fundo, no raso, e no meio de tudo
paira o éter da poesia,
perfumado pelo trinado dos pássaros.
Hoje sonhei que era uma simples operária,
carregava tijolos, movia madeiras,
construía o chi com a respiração.
Entre uma e outra tábua parava para ver a paisagem
e, subitamente, caía em devaneios profundos,
depois acordava e o trabalho continuava.
Hoje sonhei que tocava violão clássico
nas salas de grandes sábios alquimistas,
depois tocava flauta e então poemas eu recitava.
Hoje sonhei com a Terra Pura,
vi a beleza de cada brick on the wall,
tive um instante de paz, senti o amor que vem a mim.
Hoje dormi com a mão no coração,
tentando acalmá-lo de tanta existência.
Dormi, acordei, sonhei, vivi, escrevi.
© Francine Canto