Eu descobri que não falta tempo para a poesia, sobra tempo até!
O tempo para a poesia é o mesmo do trabalho, da academia, do Instagram e do noticiário. Ocupa o passar das horas, como o fluir das ondas.
Há quem faça da poesia alimento diário nutrindo-se dia após dia do sabor do inefável, disso que expande os limites do infinito e nos fala dos encantos e assombros do viver.
Vem! Mergulha você também neste mistério, só por prazer. Vem!
Passos passam pelas calçadas do centro da cidade. Nas calçadas também jazem os desajustados, os miseráveis, os marginais, enrolados em trapos, em papelões ou sacos de plástico. Chamam-lhes de vagabundos, bêbados, preguiçosos. Quem saberá de suas histórias em um país assolado, esfolado e carcomido pela crise? Quem saberá de suas histórias em um país no qual a justiça social é um conceito abstrato?
Na escola aprendi matemática, português, química e até informática, mas não aprendi nada sobre política.
Na prática, nesta área do conhecimento cresci raquítica e apática.
Mas não me fiz acrítica. Minha visão holística me levou à arte poética e também à ética e à didática e aos poucos fui entendendo a importância da política, arte tática, que sonho que um dia seja verdadeiramente democrática.
A menina tinha pássaros na cabeça e tinha gatos, panteras, poesia. A menina tinha chuva na voz, e raios e trovões e sol e melodia. A menina sabia que podia transformar o tédio em alegria. Ela sabia que sabia dizer sim à imensidão.
Tanta gente, tanta opinião. Tanta liberdade, tanta escravidão. Em meio a toda essa confusão, a rósea flor disso que sou faz uma oração, pé-de-poesia e aspira pela verdade muito além da razão.
São tantos ouvidos, que a palavra se esconde. São tantos ruídos, que a mente embaralha. Na calada da noite um grito de poesia eclode e deixa fluir o amor cintilante de dentro do murmúrio da fonte.
Às vezes dói tanto, que só resta ser forte. São tantas grades, guerras, gaiolas, são tantas palavras jogadas displicentemente ao léu, como se não houvesse energia no invisível da voz.
Às vezes dói tanto, que só resta o amor. No escuro molhado que sobra do dia traço novas esperanças, sonho perspectivas e compassos e danças.
Fugaz é o sonho! Fugaz é esse sopro que vivemos entre o primeiro respiro da vida e o último suspiro da morte.
Fugaz como a fumaça que se evola. Fugaz como a poeira no vento.
E no entanto é cheio de atos este breve espaço que abrimos no tempo. Tudo a cada instante virando história, lenda, memória, roteiro, cicatriz, poema.
E aqui estou para dizer-te, amigo: sim, há injustiças, incompreensão, desmedidas, descompassos, diferenças. Há pontes e abismos. Há alma e há lavas. Há isso que ao nos tocar nos expande: um assovio-calafrio que dá no corpo – a vida.
Sou pipoca, abobrinha, açaí, camomila. Sou meus olhos, meus ouvidos, sou os peixes da lagoa, o céu, o carnaval que vi no sonho. Sou a música de Bach e a de Caetano.
Sim alecrim! Tu resplandeces assim! Cresces ramo após ramo, alecrim ano após ano. Tua fragrância alecrim, é alegria alecrim! Tua essência alecrim, é que cria alecrim! Teu chá alecrim, é que ria pra mim! Rimos nas rimas dos ramos, sim alecrim, pura alegria, alecrim!
Vão-se as estações. No jardim um diálogo. Inços, ervas, aranhas. Primaveril fluir incessante. Um pulsar em minhas veias. Vão-se as estações. No jardim um diálogo. Inços, ervas, aranhas. Primaveril fluir incessante. Um pulsar em minhas veias.
A paz mora onde, seu moço? No templo dos adereços ou na vastidão do silêncio? Mora no centro do peito ou na projeção do vai dentro?
Poderia a paz morar no sorriso inocente de uma criança? Ou então no trabalho alegre e contínuo de um operário? Poderia a paz ser uma dança, um jogo, uma esperança?
Crio a paz às duas e vinte e cinco. Sopro no vento a intenção da poesia. Inspiro, me estico, expiro. Sou árvore, pássaro, poesia. Lá fora mil gritos de socorro, lá fora mil banquetes à minha espera. Crio a paz às duas e vinte e sete. Sou no vento a intenção da leveza. Inspiro, não me mexo, expiro. Sinto o pesar em cada veia, o pulsar da gravidade, a força dos desejos. Inspiro, expiro, medito. Crio a paz à revelia.
E se, ao invés de ir para fora, eu mergulhar para dentro? E se, ao invés de olhar as notícias, eu cantar às estrelas? E se, ao invés de procurar o outro, eu encontrar a mim mesma?